terça-feira, 5 de maio de 2009


Os jardins da cidade


As histórias voam
Ao sabor do vento
por entre folhas secas
que jazem no chão
Amareladas pelo tempo
Os bancos trepidam com paixões loucas
que neles se enchiam
com frases roucas
Os candeeiros iluminam
Gestos fechados
Que longos terminam
Como pássaros esvoaçados
As flores anunciam
A chuva no ar
que lava o poderio
de quem quer amar

E tu e eu
encontravamo-nos
com contornos perfeitos
pelas sombras desenhadas
no alcatrão da estrada
dentro de um amor sem jeito

O cheiro das tuas mãos
por entre o ferro do banco
As flores que dormem no chão
Na cidade adormecida
Os pirilampos das luzes já lá vão
e eu?
Sentada no banco eternecida
Relembro o manto verde do teu olhar
Como uma fresta de luz que me guia
Naquele elevador até ao sexto andar
Foram-se as folhas
As flores parecem não desabrochar
Foi-se o jardim
No lugar um centro comercial
O banco verde alecrim
É agora, somente, um lugar especial

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

Numa tarde de Outubro o sol já caia sobre o horizonte, formando um dourado escarlate que deixava respirar um oxigénio inebriado de cheiro a castanhas assadas e água pé. Marta regressava para casa, enfrentando uma fila de lagartas de carros que andavam aos solavancos... O rádio repetia ininterruptamente um simulacro de sismo na cidades de Lisboa... "Corte de várias vias, o transito está complicado tanto nos vários acessos a Lisboa como dentro da própria cidades". Ouviam-se sirenes de âmbulancia por todo o lado e via-se a na cara das pessoas a duvida, é verdade? É o simulacro? Vem aí uma âmbulancia em marcha de urgência? Desvio-me ou continuo na minha faixa?
Quero ir para casa!!! - Pensava Marta - É sexta-feira!!!!
O cansaço estava a apoderar-se do seu corpo e da sua mente, doiam-lhe as costas, os pés, tinha tido um dia avassalador no trabalho e apenas ansiava por voltar a casa... Afinal era sexta-feira.
Avistava o Aqueduto das Águas Livresque, no meio da confusão urbana em que estava encaixado parecia hoje um tela de papel, com as cores esbatidas pelo dourado do sol... por entre os arcos via-se o céu azul degrade que transformava em violeta o horizonte até cair nos arbustos que se nele se encostavam esperando o cair da noite.
Marta, dentro do seu carro, presa pelo transito, no meio de uma daquelas lagartas pensava na sua vida, nos seus afazeres, no fim-de-semana, na sua cadelinha EVA que a esperava com ansiedade na cozinha de sua casa...
O telefone tocou, Marta abriu os olhos que estavam meio cerrados por causa da luz do sol. Alguem para conversar naquerla fila de transito! Atendeu o telefone com uma certa alegria... mas era alguem do Banco a fazer publicidade! Respondeu a um pequeno inquérito e desligou desiludida. Faltava-lhe alguma coisa, sentia. Faltava-lhe falar com alguém, ouvir uma voz doce e meiga... faltava-lhe algo que completasse aquele dia!
O sol foi desaparecendo por detrás de uma das sete colinas de Lisboa, aquela em que estava implantada o Edificio do Amoreiras... Olhou para o seu lado direito e avistou a Lua que aparecia com um brilho prateado capaz de nele refletir o Tejo... Prateado? Bola? Onde está a minha bolinha de metal? Pensou Marta. Onde estaria ela?
Bolinha de metal, a sua bolinha de metal... À medida que Marta foi crescendo deixara de depositar as suas esperanças o seu imaginário na sua bolinha de metal. A vida havia-se apoderado da magia que a envolvia naquela altura e sugado todas as luzinhas dos pirilampos... mas havia uma que permanecia... o brilho da sua bolinha de metal! Era mágico, aquele brilho, de cada vexz que olhava para ela sentia uma paz de espirito envadir-lhe o corpo e uma energia a envolver-lhe a alma... Pensou "Falta-me alguma coisa... estou incompleta!"

(Continua...)

segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

Bom Ano Novo!


Que agarrem o Mundo com as mãos e o façam rebolar por entre os dedos de acordo com os vossos desejos!

Natal


Feliz Natal!

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

Podes chamar-me um anjo?

Para todo o lado onde olhe
Nada parece completo
Continuo à procura
da melhor parte de mim!
Coloquei a mão na minha alma...
Encontrei o teu toque
Quando me acarinhavas
Como se fosse a ultima vez
Quando me abraçavas
Como se fosse para sempre
Quando me beijavas
Como se nunca mais me fosses ver
Quando me amavas
Como se não tivesses chão...e voavas
E se eu não tivesse mais tempo?
Mais tempo para estar aqui
Proteger-me-ias, seria a minha sombra?
Eras tudo o que eu procurava...
Hoje sinto que não pertenço a lado nenhum
O peso que tenho
Não me deixa caminhar
Quero encontrar o tempo
Para chegar a lado algum
Mas é uma longa estrada, para viajar
Para chegar ao Céu
Mas tenho de lá chegar
Podes chamar-me um anjo?
Que me abraçe como se fosse a ultima vez...
Ainda bem que te conheci...




12.11.2008

quarta-feira, 22 de outubro de 2008

O que tentamos alcançar?


A morte chega cedo
Pois breve é toda a vida
O instante é o arremedo
De uma coisa perdida
O amor foi começado
O ideal não acabou,
E quem tenha alcançado
Não sabe o que alcançou.
E tudo isto a morte
Risca por não estar certo
No caderno da sorte
Que Deus deixou aberto

Fernando Pessoa

E quem tenha alcançado, não sabe o que alcançou... A grande maioria das pessoas a quem pergunto qual é o seu objectivo na vida, o seu maior objectivo responde-me " Ser feliz"! Eu pergunto " E quando achas que terás alcançado esse objectivo?" Ao que me respondem "Pois...não sei..." Isto não é estranho? Como para mim a felicidade não é um objectivo é algo que tem de ser inerente à vida, algo que nos aparece no dia-a-dia em pequenas coisas... constato que a maioria das pessoas vivem sem objectivos! Bom até eu propria, eu costumo responder que o meu objectivo é viver a vida o melhor que posso e coleccionar o maior numero de particulas de felicidade que conseguir obter ao longo da minha vida... A felicidade só pode estar dentro de nós!! Objectivo principal amar tudo e todos de forma incondicional...isso traz-me muitas particulas de felicidade... E tu? O que é para ti a felicidade?

quarta-feira, 20 de agosto de 2008

Isabella adorava aquelas noites de Verão. Soprava uma brisa quente e os seus cabelos esvoaçavam numa melodia de notas musicais. A lua estava baixa, era uma daquelas luas que parecem tiradas de um postal. O mar estava sereno, parecia um espelho que reflectia os sonhos da lua, estava sarapintado com uma chuvinha de estrelas que esta lhe lançava e apenas o horizonte os separava... O mar estava tão calmo que parecia ser a continuação do céu, parecia que faziam parte um do outro, cada um um deles poderia ver o passado e o futuro no outro, como se tudo se completasse, como se não existisse nem inicio, nem fim... Para Isabella a vida começava e acabava ali.
Francisco afagou-lhe o cabelo, Isabella olhou para ele e viu nos seus olhos verdes, reflectida a sua vida, naqueles olhos que tanta ternura lhe transmitiam, abraçou-o profundamente.
Atrás o mundo dormia...
O abraço unificou-os e ambos sentiam ser parte um do outro, cada um reflectia o seu passado e futuro no outro, tudo se completava, não existia nem inicio, nem fim.
Isabella sentia um manto de aconchego quando se aninhava nos braços de Francisco.
Ficaram horas a conversar naquela praia, de fantasias, sonhos, receios, o tempo parecia ter parado como se uma objectiva tivesse captado aquele momento para sempre ou um pintor o tivesse eternizado numa tela pintada a aguarelas.
Isabella olhava para Francisco, ouvia-o com um sorriso nos lábios e fitava os seus olhos como se mergulhasse no seu livro de aventuras. Francisco passava-lhe a mão pelos cabelos e inalava o cheiro do seu shampô cujo o aroma flutuava em toda a praia.
A brisa soprou mais forte e Isabella encostou a cabeça no seu ombro pedindo o seu calor.
Francisco disse-lhe:
- Gosto da tua voz e de te ouvir falar. As tuas histórias transmitem sempre esperança, principalmente as da tua infancia...
- Agrada-me que me gostes de ouvir... sinto que posso abrir-te o meu livro até ao mais infimo pormenor. Gosto de partilhar a minha vida contigo. És muito querido e mostras interesse ao ouvir-me. Gosto muito de ti! - respondeu Isabella.
Neste momento, a brisa tornou-se vento e começou a soprar mais forte.
De repente o mar tornou-se agitado, o ar ficou gélido, apareceram nuvens escuras que taparam o luar e desapareceram as estrelinhas que salpicavam o mar.
À frente de Isabella e Francisco abeiraram-se grandes vagas que includiam na areia da praia. O vento tornou-se tão forte que arrancou Francisco dos braços de Isabella.
Isabella gritava e tentava não largar a sua mão, como se a sua vida dependesse daquele momento. Perderam-se as forças e Francisco foi levado pelo vento e engolido pelo ar na escuridão. Isabella fico só e gritava por ele desesperada!
Acordou aos gritos na cama com o suor a escorrer-lhe pela face e ouviu uma voz melodiosa dizendo-lhe:
- Tem calma querida, eu estou aqui, foi apenas um pesadelo!
Era Samuel, o seu marido, Isabella sossegou... Olhou em volta e viu que estava em casa, na sua casa, no aconchego do seu lar. As paredes estavam pintadas em cor de beije, as cortinas eram brancas e esvoaçavam suavemente pela brisa que entrava pela nesga da janela. Havia um espanta espiritos pendurado que emanava uma melodia suave composta pela luz de pirilampos. Isabella voltou a adormecer.
Quando amanheceu levantou-se e ouviu vozes de crianças.
- Mãmã, Mãmã, vamos jogar às escondidas no jardim!!!
- Esperem meus queridos, primeiro vamos tomar o pequeno almoço! - respondeu Isbella.
- Como está um dia de Primavera, vamos tomar o pequeno almoço no jardim. - sugeriu Samuel pegando nas duas crianças, Paulo e Inês, ao colo.
Isabella esboçou um sorriso que irradiava a paz que sentia naquele ambiente, agradou-lhe a ideia.
A familia, toda reunida, iniciou os preparativos com grande alegria. As crianças euforicas queriam pegar em tudo ao mesmo tempo, no pão, nos sumos, nos cereias e acabavam por tropeçar uma na outra, contagiando a casa de raios coloridos e jubilados.
Isabella olhava para todo o cenário e pensava "Esta é a minha casa, a minha familia. É neles que me encontro e me equilibro, é o meu mundo, o meu lugar..."
Samuel era um homem amável e atencioso que tratava Isabella como sua rainha e depositava nela todo a sua esperança na vida, todos os seus sonhos, todo o seu futuro. Havia-a abraçado à 12 anos atrás para percorrerem juntos o seu fado, unidos por um amor eterno.
Paulo tinha 6 anos e Inês tinha 4 eram ambos crianças amaveis e divertidas com aquela vivacidade que só as crianças têm e que se vai perdendo à medida que se cresce e desaparece à medida que se envelhece. Os seus olhares iluminavam a estrada de Isabella e de Samuel.
"Sim, este é o meu lugar!", pensou, novamente Isabella, colhendo três rosas vermelhas e colocando-as numa jarra para fazer de enfeite à mesa de ferro do jardim.
O pequeno almoço decorria animado com as crianças a recordarem as suas aventuras do dia anterior na piscina. Samuel ria com as suas observações e Isabella observava divirtida, o entusiasmo das duas crianças.
Levantou-se e foi à cozinha buscar mais pão olhou de soslaio pela janela e viu umas nuvens cinzentas a caminharem na direcção do jardim, abeirou-se da janela e gritou:
- Samuel! Meninos! É melhor terminarmos o pequeno almoço dentro de casa porque vai começar a chuviscar!
Fechou a janela, pousou o cesto do pão em cima da bancada e começou a ouvir uns pingos de chuva a baterem na vidraças. Primeiro, suavemente mas depois com uma intensidade que jamais tinha ouvido antes. Preocupada olhou novamente pela janela e viu o jardim da sua casa a ficar completamente inundado. As três rosas flutuavam agora ao pé da sua janela. Correu para a porta mas não a conseguia abrir. Gritou pelo marido e pelos filhos. Ouvia as suas vozes ao longe mas não os conseguia avistar. Isabella batia na porta, como se a sua vida dependesse daquele momento, tentava abri-la mas não tinha forças. Cada vez as vozes da sua familia se afastavam mais e mais... a água atingira já o nivel da janela da cozinha. Isabella deixou-se cair no chão...
Acordou a chorar...
Olhou em volta e viu o seu quarto. A penúmbra apenas era interrompida por um raio de luz que rasgava pela janela. As paredes cinzentas reflectiam a alma de Isabella. Ao seu lado jazia um vazio, estava sozinha.
Naquela altura era muito dificil a mulher conseguir a custodia dos filhos. Os homens é que sustentavam a casa e as mulherem não tinham quaisquer direitos. Samuel descobrira tudo, resolvera divorciar-se e Isabella fora afastada da familia, do seu rio e abandonada num qualquer afluente, poluido, cujas águas estavam estagnadas e enfermes e que emanavam um cheiro nauseabundo. Tudo porque, sem querer, sem nada procurar Isabella se havia apaixonado por Francisco naquele Verão.
Isabella chorava. Sentia-se culpada por tudo. Por ter deixado que aquela situação acontecesse. Por se ter enamorado e encantado por aquele homem, por se ter deixado envolver nos seus braços. Mas, a verdade era que nenhum homem a fazia sentir tão completa, tão enaltecida, tão amada. Naquele Verão haviam passado tardes e noites inteiras a conversar sob a lua com o mar como testemunha. Haviam marcado encontros secretos em paisagens que Deus lhes enviara para viverem o seu amor, para se encontrarem um no outro, para agarrarem estrelas e construiram galáxias.
Sim, é verdade que Isabella havia ponderado muitas vezes em deixar Samuel para viver aquele amor, tinha a nitida sensação que com ele encontraria a felicidade, a compleição, a plenitude...mas haviam as crianças... e ponderava o que era a felicidade? Se esta existia mesmo? Se ela só existe porque não damos valor às coisas e a figuramos nesta palavra desculpas para o que nos faz falta... se seria ela feliz com o Samuel? Com a sua familia? Se a felicidade não serão pequenos momentos que nos fazem sentir bem, pequenas particulas que temos de agarrar ao longo da vida. A felicidade plena existirá?... resolveu deixar aquele amor por viver e escolheu a felicidade que já conhecia, que tinha a certeza que podia viver...não podia abandonar o seu ninho por uma felicidade hipotética que não sabia algum dia se concretizaria...
Mas, agora, havia perdido tudo, o Samuel, os seus filhos...o Francisco...estava sozinha...
Bateram à porta, quem seria? Ninguem sabia que Isabella vivia ali, naquela cave de um prédio na parte velha da cidade. Abriu e não viu ninguem. Olhou para baixo e viu um embrulho. Rasgou o papel, era um livro! Começou a folhear e no meio vinha um bilhete onde estava escrito "Encontrei-te! Dar-te-ei para sempre a mão! A nossa história não tem inicio nem fim.. falta-me uma estrela para construir uma galáxia...". Isabella sentou-se no chão e percorreu na memória toda a sua história. Sorriu.