Numa tarde de Outubro o sol já caia sobre o horizonte, formando um dourado escarlate que deixava respirar um oxigénio inebriado de cheiro a castanhas assadas e água pé. Marta regressava para casa, enfrentando uma fila de lagartas de carros que andavam aos solavancos... O rádio repetia ininterruptamente um simulacro de sismo na cidades de Lisboa... "
Corte de várias vias, o transito está complicado tanto nos vários acessos a Lisboa como dentro da própria cidades". Ouviam-se sirenes de âmbulancia por todo o lado e via-se a na cara das pessoas a duvida, é verdade? É o simulacro? Vem aí uma âmbulancia em marcha de urgência? Desvio-me ou continuo na minha faixa?
Quero ir para casa!!! - Pensava Marta - É sexta-feira!!!!
O cansaço estava a apoderar-se do seu corpo e da sua mente, doiam-lhe as costas, os pés, tinha tido um dia avassalador no trabalho e apenas ansiava por voltar a casa... Afinal era sexta-feira.
Avistava o Aqueduto das Águas Livresque, no meio da confusão urbana em que estava encaixado parecia hoje um tela de papel, com as cores esbatidas pelo dourado do sol... por entre os arcos via-se o céu azul
degrade que transformava em violeta o horizonte até cair nos arbustos que se nele se encostavam esperando o cair da noite.
Marta, dentro do seu carro, presa pelo transito, no meio de uma daquelas lagartas pensava na sua vida, nos seus afazeres, no fim-de-semana, na sua cadelinha EVA que a esperava com ansiedade na cozinha de sua casa...
O telefone tocou, Marta abriu os olhos que estavam meio cerrados por causa da luz do sol. Alguem para conversar naquerla fila de transito! Atendeu o telefone com uma certa alegria... mas era alguem do Banco a fazer publicidade! Respondeu a um pequeno inquérito e desligou desiludida. Faltava-lhe alguma coisa, sentia. Faltava-lhe falar com alguém, ouvir uma voz doce e meiga... faltava-lhe algo que completasse aquele dia!
O sol foi desaparecendo por detrás de uma das sete colinas de Lisboa, aquela em que estava implantada o Edificio do Amoreiras... Olhou para o seu lado direito e avistou a Lua que aparecia com um brilho prateado capaz de nele refletir o Tejo... Prateado? Bola? Onde está a minha bolinha de metal? Pensou Marta. Onde estaria ela?
Bolinha de metal, a sua bolinha de metal... À medida que Marta foi crescendo deixara de depositar as suas esperanças o seu imaginário na sua bolinha de metal. A vida havia-se apoderado da magia que a envolvia naquela altura e sugado todas as luzinhas dos pirilampos... mas havia uma que permanecia... o brilho da sua bolinha de metal! Era mágico, aquele brilho, de cada vexz que olhava para ela sentia uma paz de espirito envadir-lhe o corpo e uma energia a envolver-lhe a alma... Pensou
"Falta-me alguma coisa... estou incompleta!"(Continua...)