"Foi quando a vi. Vinha ela a entrar a porta do prédio. Deslumbrante, vestia rosa e umas calças de ganga justas que deixavam ver as perfeitas formas do seu corpo.
O seu semblante era sereno, descomprometido, mas numa segunda análise parecia habitar nos seus olhos a profundidade do espírito. Reparei também na sua boca e nos seus lábios. Eram bonitos e sorriam para mim.
De pé, à espera do elevador, tentava manter uma distância de segurança, mas aquela mulher parecia ter um íman que me inebriava a alma. Começou a olhar para mim, aos poucos, como se procurasse compreender os meus pensamentos. E eu sentia-me bem, aconchegado, que a conhecia de longa data. Começava a ser difícil resistir àquela valsa de olhares.
Depois de uma eternidade à espera do elevador, que no entanto não me pareceu uma eternidade, eis que as portas se abrem. Fiz-lhe a pergunta mais inteligente que se pode fazer a uma pessoa quando espera um ascensor no rés do chão, num prédio que não tem cave: “Vai subir?”. Respondeu-me que sim e pedia-me que marcasse para o 6.º andar. Ela para lá que eu ia. Era estranho, pois os andares eram únicos, com um só proprietário, e nunca a vira por ali. Poderia ser uma visita, uma cliente, uma familiar…Mas tinha um forte pressentimento que não seria nada disso…Cheirava-me a aparição, a estrela cadente, a uma luz que me encadeara o raciocínio. Via um anjo que se atravessara de rompante na minha vida. Agora comunicávamo-nos por leves toques que dávamos devido ao pequeno espaço a que estávamos confinados. Desejei que ficássemos ali presos durante horas, que me permitisse conhecê-la, conversar, abraçá-la…Todas estas sensações eram novas para mim, assaltava-me um sentimento de desejo muito forte, combinando o físico e o psicológico. Mas eu não a conhecia…Findámos o nosso breve percurso e saímos. Finalmente, ganhei coragem e perguntei-lhe quem era, o que queria…Porquê tamanhos olhares e porque é que os nossos momentos de silêncio foram tão preenchidos de pensamentos?!
Respondeu-me que sempre estivera em mim e que só agora nos havíamos encontrado.
Olhei para ela e só vi um verdadeiro anjo que acabara de esbarrar na minha condição de ser humano.
O seu semblante era sereno, descomprometido, mas numa segunda análise parecia habitar nos seus olhos a profundidade do espírito. Reparei também na sua boca e nos seus lábios. Eram bonitos e sorriam para mim.
De pé, à espera do elevador, tentava manter uma distância de segurança, mas aquela mulher parecia ter um íman que me inebriava a alma. Começou a olhar para mim, aos poucos, como se procurasse compreender os meus pensamentos. E eu sentia-me bem, aconchegado, que a conhecia de longa data. Começava a ser difícil resistir àquela valsa de olhares.
Depois de uma eternidade à espera do elevador, que no entanto não me pareceu uma eternidade, eis que as portas se abrem. Fiz-lhe a pergunta mais inteligente que se pode fazer a uma pessoa quando espera um ascensor no rés do chão, num prédio que não tem cave: “Vai subir?”. Respondeu-me que sim e pedia-me que marcasse para o 6.º andar. Ela para lá que eu ia. Era estranho, pois os andares eram únicos, com um só proprietário, e nunca a vira por ali. Poderia ser uma visita, uma cliente, uma familiar…Mas tinha um forte pressentimento que não seria nada disso…Cheirava-me a aparição, a estrela cadente, a uma luz que me encadeara o raciocínio. Via um anjo que se atravessara de rompante na minha vida. Agora comunicávamo-nos por leves toques que dávamos devido ao pequeno espaço a que estávamos confinados. Desejei que ficássemos ali presos durante horas, que me permitisse conhecê-la, conversar, abraçá-la…Todas estas sensações eram novas para mim, assaltava-me um sentimento de desejo muito forte, combinando o físico e o psicológico. Mas eu não a conhecia…Findámos o nosso breve percurso e saímos. Finalmente, ganhei coragem e perguntei-lhe quem era, o que queria…Porquê tamanhos olhares e porque é que os nossos momentos de silêncio foram tão preenchidos de pensamentos?!
Respondeu-me que sempre estivera em mim e que só agora nos havíamos encontrado.
Olhei para ela e só vi um verdadeiro anjo que acabara de esbarrar na minha condição de ser humano.
Porque é que por vezes nos cruzamos com pessoas que, afinal, conhecemos desde sempre? Porque é que existe uma relação para além do racional entre certas pessoas? O que nos leva a sentirmo-nos mais atraídos por umas pessoas do que por outras? Nunca perguntei nada disto ao Joaquim, ao meu grande amigo Joaquim. Tinha estudado para cientista e nunca achara a fórmula mágica para o seu próprio amor. Disse em tempos que a química poderia explicar algumas reacções físicas do nosso corpo. Mas até hoje fiquei na dúvida. Não sabia se estaria a brincar comigo…
Tive vontade de lhe telefonar para que me debitasse a teoria de algum alemão ou japonês, daqueles sobredotados da ciência, e que me fizesse entender como tudo se passa dentro do nosso corpo humano, da nossa mente…
Tive vontade de lhe telefonar para que me debitasse a teoria de algum alemão ou japonês, daqueles sobredotados da ciência, e que me fizesse entender como tudo se passa dentro do nosso corpo humano, da nossa mente…
Senti que naquele elevador a minha respiração me havia traído e que o meu olhar me tinha denunciado. A minha linguagem corporal não obedecera ao que o meu cérebro lhe ordenava. Que ficasse quieto e sereno, que prosseguisse a minha vida e que não me deixasse atrair por aquele vulto celestial. Tudo isso me metia confusão e, eventualmente, só o Joaquim me poderia ajudar. Telefono, mas vai para o voice mail... Ainda não é hoje que ouço a brilhante explicação da Ciência!É de madrugada e estou no trânsito da enorme artéria citadina. Parte da minha cidade ainda se aconchega aos cobertores, mas naquele dia eu havia repelido, bem cedo, os lençóis da minha cama. A sinfonia ordenada de bocejos passa de carro para carro...As pessoas não conversam e deixam-se olhar para o infinito...entre um bocejo e outro. Onde está a química entre aqueles casais que vou observando? Foi sugada pelo quotidiano do trabalho e da rotina? Talvez...
De um breve soslaio, reparo na mulher que me havia de novo feito sonhar num pequeno elevador. Jovem, confiante, lá vai ela, nada a abala. E, contudo, o seu semblante continua sereno, serenando o meu. Havia caído o sinal vermelho e saio do carro. Chamo-a e corro em sua direcção. Não a encontro...Perdi-a ao dobrar da esquina, na lomba da curva. Ela existe, quem é? Terei sonhado? Ninguém consegue desaparecer tão rapidamente.
De um breve soslaio, reparo na mulher que me havia de novo feito sonhar num pequeno elevador. Jovem, confiante, lá vai ela, nada a abala. E, contudo, o seu semblante continua sereno, serenando o meu. Havia caído o sinal vermelho e saio do carro. Chamo-a e corro em sua direcção. Não a encontro...Perdi-a ao dobrar da esquina, na lomba da curva. Ela existe, quem é? Terei sonhado? Ninguém consegue desaparecer tão rapidamente.
Olho para o chão e vejo um lenço caído. Apanho-o. Tem o seu perfume...Assalta-me uma enorme vontade de lho colocar ao pescoço e de ficar com ela. Mas já não a avisto, já não a avisto.
Aquele lenço foi um sinal para mim...aquela mulher existia, ainda que num plano abstracto, ainda que num horizonte longínquo. Só tinha agora que a encontrar e conquistá-la. "
Aquele lenço foi um sinal para mim...aquela mulher existia, ainda que num plano abstracto, ainda que num horizonte longínquo. Só tinha agora que a encontrar e conquistá-la. "